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quatro de treta e um bebé!

"Não me digam que concordam comigo! Quando as pessoas concordam comigo, tenho sempre a impressão de que estou errado." – Oscar Wilde

quatro de treta e um bebé!

"Não me digam que concordam comigo! Quando as pessoas concordam comigo, tenho sempre a impressão de que estou errado." – Oscar Wilde

28
Jan23

amor à camisola

quatro de treta e um bebé

Logo à noite, perto da meia noite, estarei, finalmente, a chegar a casa depois de mais um treino. Provavelmente, quando chegar a casa, queixar-me-ei do braço que doí, do corpo que pede cama e dos joelhos que estão esfolados. Cairei na cama, exausta, para acordar no dia seguinte, cedíssimo, para mais um dia de trabalho que terminará, também ele, perto da meia noite, depois de mais um treino, em que, provavelmente, me continuarei a queixar de tudo o que me queixei no dia anterior.

 

As pessoas que me são próximas dizem que vivo para aquilo. Outras, menos próximas, perguntam como tenho tempo para tudo. Há quem faça birras porque não vou, porque tenho jogo, porque na verdade o tempo não chega para tudo e priorizo.

 

Dou por mim a sorrir.

 

Não me lembro como é que isto começou. Sei que tinha uns 8 ou 9 anos, quando, por algum motivo (provavelmente levada pelo professor de educação física) entrei no mundo do voleibol. Também não me recordo, mas duvido que soubesse para o que ia e no que aquilo que se ia tornar para mim.

 

Sem dar por ela, o que era suposto ser um hobbie, rapidamente deixou de ser apenas isso. Treinava todos os dias. Jogava, aos fins de semana, em dois campeonatos distintos. Passava mais tempo com a Equipa do que com a minha família.

 

Vivia intensamente cada treino, cada jogo, cada campeonato. Sentia a ansiedade, a importância “daquele” jogo. Gritava cada ponto! Vibrava com cada vitória.

Joguei algumas vezes com dores, outras com mau estar, outras ainda com cansaço. Joguei com tudo isso ao mesmo tempo. Joguei com alegria, com satisfação, com vontade. Com garra! Com prazer. Acima de tudo, com prazer.

 

Entrei em cada jogo para sair apenas com a vitória. E há derrotas que ainda hoje estão presas na garganta.

 

Ontem, após alguns anos de pausa, porque a vida (porque nem sempre é possível priorizar como queremos) assim me impôs, regressei, oficialmente, a este mundo. A um mundo que, apesar das pessoas não perceberem, tanto me dá.

 

Hoje, tantos anos depois do primeiro dia, sinto tudo da mesma forma, com a mesma intensidade. E sei, desde já, que vou continuar a jogar com dores, a sentir a ansiedade, a vibrar com cada ponto, a viver cada vitória como se tudo se resumisse àquilo.

 

Infelizmente, e sob protesto, sei também que vão continuar a existir jogos que me ficarão presos na garganta. Que a frustração vai fazer parte. E que nem sempre os resultados vão ajudar a acalmar as dores ou o cansaço.

 

Mas de uma coisa tenho a certeza, vou continuar a jogar com prazer. Porque apesar de todo o esforço que isso me exige, de todas as coisas que me faz “não fazer”, de todos os lugares onde não poderei estar e de todas as opções que vou tomar em prol do voleibol, aquela equipa (que apesar do pouco tempo já é tão minha), aquele clube, dentro daquele campo, me vão fazer tão feliz! Mas tão feliz!

 

E o braço vai continuar a doer, e o corpo vai continuar a pedir cama, e os joelhos vão continuar esfolados. E eu vou ser tão feliz mesmo assim.

 

M.

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28
Jan23

Saber Perder.

quatro de treta e um bebé

No desporto, como na vida, é tão importante saber ganhar, como saber perder.

Saber ganhar exige humildade. Controlo do ego, da vaidade. Modéstia. Saber que a vitória não é garantida. Que é fruto de muito trabalho. Que dá muito trabalho.

Saber ganhar é uma virtude.

Saber perder também. Mas com o acréscimo de admitir que os outros foram melhores. Que mereceram. Que trabalharam e conseguiram superar-nos. Apesar dos nossos esforços (ou até falta dele), do nosso trabalho (ou também falta dele) da expectativa, da esperança, não foi suficiente. Ou porque os outros se esforçaram mais, trabalharam mais, acreditaram mais. Ou, simplesmente, porque tem outros (ou mais) recursos (físicos e técnicos). Ou, ainda mais simplesmente: são melhores, ponto.

É essa capacidade de análise que faz de cada um melhor atleta ou treinador (ou dirigente, ou coordenador, ou árbitro, ou pai, até). 

E quando essa capacidade não existe, tornamo-nos ridículos. Revoltados com a vida (e não só com a vida desportiva), vingativos, falaciosos. Deixamos de nos preocupar connosco, de nos focar naquilo que temos que melhorar, e metemos todos os nossos esforços nas desculpas. Nos árbitros. Nos campos. Nos pavilhões. No material. Nas bolas. Na luz. 

E depois vem outra derrota, e outra, e outra. Vem o quase, vezes e vezes sem fim. Continuamos tão focados nas desculpas, que entramos numa escuridão que criamos e nem nos percebemos que somos um entrave a nós próprios. A nós próprios e aos que estão connosco. 

Neste ano de 2023, desejo que se iluminem aqueles que se meteram nesta escuridão de ainda não saber perder!

 

M.

17
Mai22

Carta aberta.

quatro de treta e um bebé

“A felicidade é momentânea”, disseste-me tu, naquela tarde. “Vives momentos de felicidade, mas não consegues que ela seja permanente”, insististe. 

Com o brilho no olhar e sorriso no rosto, talvez na ilusão do mundo perfeito, mas poucos argumentos, respondi-te que me propunha a provar-te o contrário. 

Anos mais tarde, no sossego que nos proporcionamos, perguntei-te se ainda achavas o mesmo. Sorriste, suspiraste e abraçaste-me de forma cúmplice. Li as entrelinhas.

Quis o destino (sempre o destino), que viéssemos a seguir caminhos diferentes. Despediste-te de mim com um "vês, eu disse-te, a felicidade é momentânea". 

A tristeza é momentânea, pensei com convicção. Porra, a tristeza é momentânea.

 

Quando nos conhecemos, vivias num círculo fechado. Eras um círculo fechado. Impossível de transpor. Cheio de segredos, de medos, de fantasmas. De fantasmas! Desconfiado, por natureza. Com ambições profissionais, mas sem grandes ambições pessoais. Cheio de medo das ambições pessoais. Não demonstravas sentimentos, fechava-los em ti com receio de que os outros os usassem. Não percebias que eras tu quem, dessa forma, os virava contra ti.

Assumi, perante mim mesma, a difícil tarefa de transpor essa barreira. Sempre adorei desafios e objetivo era claro: encher a tua vida de vida. E enchi.

O raio do destino (outra vez o destino!) quis que nos voltássemos a cruzar. E por esse motivo, quis saber mais sobre ti. Como estavas, o que fazias, o que fizeste, o que viveste… Porra.

Sempre tiveste razão. A felicidade é momentânea. Para quem se conforma com isso!

 

M.

01
Fev22

O jogo da apanhada.

quatro de treta e um bebé

Há dois anos que andamos a jogar ao jogo da apanhada. Eu a fugir, ele a tentar apanhar-me.

Esconde-se por aqui, surge ali, acena de acolá. E eu, fingindo que não vejo, viro a cara, mudo o caminho, volto para trás. Há alturas que sabemos que o caminho não é por ali. O pouco que sabemos é suficiente para que a nossa voz interior (AKA Anjo da Guarda) nos diga “não avances”, “recua”, “vira à direita”, “fecha a porta”, “corre”. Corre e não pares.

Assim fiz. Obediente.

Mas do outro lado, estava alguém persistente. Teimoso. Decidido. Que chegou com um objetivo e parecia não querer ir embora sem o alcançar.

Durante dois anos, levei a melhor! Evitei lugares onde nos poderíamos encontrar. Recusei convites com amigos em comum. Com arte e mestria, malabarismos e bastante elasticidade, consegui evitá-lo.

Contudo (ou apesar de tudo), por fim (talvez!), apanhou-me. Não posso dizer que “de surpresa”, ou “contra todas as expectativas”. Por um lado, acreditava que conseguiria fugir para sempre. Por outro, achava que já só a sorte me permitia continuar a evitar o inevitável.

Apanhou-me, e como se isso, só por si, não fosse suficiente, atirou-me para a cama numa tentativa (bem conseguida) de provar que vencera. Apanhou-me e deixou-me apanhada. 

Com arrepios, dores no peito, sem ar e ofegante. 

Podia ser amor. Era Covid. 

M.

 

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