Não imaginava o que seria o amor de tia.
Ser tia nunca foi uma ambição minha, tão pouco um plano, um desejo, sequer uma eventualidade pensada.
Como já vos contei, fui filha única até aos 19 anos, quando nasceu a S.
Não ter irmãos significava não ter nada do que vem associado à irmandade; mormente, significava não ter sobrinhos.
Naturalmente, após nascer a S., sobrinhos não foi, de todo, uma ideia que tivéssemos contemplado. Afinal de contas, a S. acabou de fazer 9 anos, pelo que espero que não me dê essa novidade durante muito, muuuuiiiito tempo.
Talvez em relação aos meus primos, a relação mais próxima desse género, os meus brothers from another mother, ainda imaginasse vir a ser tia, mas, novamente, nada de muito pensado, planeado, ou sequer ambicionado.
Surge o J. e com ele traz não um, não dois, não três, mas quatro irmãos. Ainda assim, sobrinhos, nem pensá-los.
Passam uns anos e nasce o A. Uns anos depois, nasce o D.
E heis que dou por mim uma tia babada.
Sim, sim, tia. A irmã é do J., mas os sobrinhos são nossos.
Fosse o J. diferente, fosse eu diferente, ou fossemos nós diferentes, e até poderia nem ser assim. Mas não somos; somos assim. A loucura da minha família já é dele, e a loucura da família dele já é minha. Vejam lá que o J. já merece ser individualizado no discurso de agradecimento dos 80 anos da minha avó M. (e olhem que foi um momento muito solene!).
De entre tantas coisas boas que o J. trouxe à minha vida (ele próprio incluído), trouxe-me também dois amores pequeninos.
Descobri recentemente este novo sentimento, o amor de tia – e tão bom que é.
Sim, sou daquelas tias babadas que fala dos sobrinhos como se tivessem acabado de ganhar a bola de ouro, ou um óscar, ou o nobel da paz. Daquelas que se baba a ver os vídeos e as fotografias das peripécias dos pequenos. Mesmo daquelas que volta e meia diz “sabes que os meus sobrinhos fazem isto e aquilo”.
É que, não é por serem meus, mas são, efetivamente, os sobrinhos mais fofos de todo o universo.
Ser tia, descobri eu, é algo de fabuloso.
Ser tia é ter a oportunidade de ser uma figura de referência, é poder ser um porto de abrigo, uma amiga que é mais do que isso, e, quando os pais nos permitem e nos incluem da forma inclusiva como a irmã do J. o fez, a possibilidade de, junto dos pais, participar ativamente na vida de bebés/crianças/jovens/adultos que, não sendo nossos, o são.
É ser uma companheira de aventuras e brincadeiras, ser aquele adulto que, como o Panda, é fixe. Ser, como o J. gosta de dizer, “os tios malucos” (ou, como eu prefiro, “os tios favoritos”).
Mas também estar pronta para se for preciso ser o adulto que diz “não, isso não”.
É que isto de ser tia não é só folia, também é responsabilidade!
É perceber que somos importantes para aqueles seres tão pequeninos, entender que eles sentem a nossa falta, que nos estranham e ressentem se ficamos ausentes, que a nossa validação é importante e que o nosso apoio pode ser decisivo.
Quanto ao nosso grupo, a S. contemplou-nos com a felicidade de sermos tias emprestadas da nossa B., pelo que de tudo faremos também para tornar a vida da pequena B. mais feliz, com essa benesse e bem-vinda responsabilidade que nos foi atribuída.
Tive a sorte de ter tios e tios-avós fabulosos que marcaram, e continuam a marcar, a minha vida de uma forma muito positiva e muito importante.
Espero poder vir a, de certa forma, retribuir, tudo o que recebi enquanto sobrinha, como tia.
Até lá, e sempre enquanto mo permitirem, espero poder ser uma presença positiva na vida destes meus amores pequeninos.
R.