Este natal vou ter o meu primeiro grande jantar de empresa.
Já passei por jantares de trabalho, durante o tempo de estágio; um deles num bom restaurante, com a família dos chefes, pago pelos ditos cujos, outro deles, do lado oposto, uma refeição informal entre pessoas que trabalham juntas. Já fui convidada em jantares de empresas em que alguns dos funcionários terminaram na rua a expelir tudo o que acabavam de ingerir, numa mistura perigosa entre álcool e insatisfação.
Vale sempre o truque do costume: sorrir e acenar.
Lidar com os que nem sequer fazem um esforço, os que não se calam, os absolutamente inadequados, os de que efetivamente gostamos mas com quem não conseguimos falar.
A linha ténue que separa o divertirmo-nos do ser socialmente adequado a um ambiente mais ou menos profissional.
Este ano, pela primeira vez, participo num jantar de uma empresa maior, um jantar cuidadosamente planeado e organizado.
Mais, um jantar com tema.
Pior, com bar aberto.
Antes de mais, decidir o que vestir e tudo o que com isso anda de mãos dadas: comprar, pedir emprestado, planear e escolher.
Cometer o erro de deixar antever alguma dúvida, e a sugestão amigável passar a conselho não solicitado.
Ter a certeza absoluta de que alguém irá criticar, ou não fosse passatempo habitual ir ver as fotos dos anos passados e largar aquela frustraçãozinha em críticas algo generalizadas, sempre numa ótica de heteroavaliação, claro.
Decidir que, acima de tudo, queremos sentir-nos bem. Decidir que, já que no dia-a-dia a escolha recai sobre peças mais casuais, queremos ir com algo que nos assente bem e tenha algum efeito uau. Mas que também queremos estar confortáveis e seguras, até porque convém ser simpáticos durante o jantar, e se já vamos ter que usar aquele sorriso amarelo de vez em quando, não será fácil ter que o fazer se estivermos a agonizar com dores nos pés ou preocupados com a racha do vestido.
Tentar balançar entre o too little com o too much, afinal de contas, esta não é propriamente a minha praia.
E, depois de tudo, a preparação mental. Para ser um ser sociável e simpático, estar à vontade, mas não à vontadinha, confiante, mas não armante.
Preparar a parte social: trabalhar os músculos faciais para o sorriso, a mente para ignorar as boquinhas, os olhos para não mostrar as críticas que fazemos à empresa ou aos chefes durante a semana, lembrar de ter sempre um copo na mão para ninguém chatear, mas de lembrar que estamos, afinal de contas, num ambiente semi profissional, e que não queremos acabar a noite de gatas.
No meio disto tudo, esperar que seja minimamente divertido! Esquecer que aquilo nos chateou e desmotivou ou que aquela costuma ser insuportável, e tentar aproveitar.
Estreitar laços, conversar, partilhar ideias, motivar, e, quem sabe, descobrir pessoas que vão deixar saudades, um dia, quando partirmos para outra etapa.
E, no final, voltar ao trabalho. Abanar a cabeça ao pensar no stress e planeamento que exigiu uma única noite, cruzar os dedos e esperar que não tenham feito ou dito nada desapropriado, e voltar ao que efetivamente estamos lá para fazer: trabalhar.
Com certeza estão também vocês na época dos jantares de natal, incluindo os da empresa.
Algum conselho para uma principiante?
R.