A História que estamos a viver
Olá pessoas!
Já pararam para pensar que, neste preciso momento, estamos a viver um momento histórico que, daqui a uns anos, estará nos livros de todos os miúdos que tiverem o privilégio (sim é um privilégio) de estar nas suas escolas a aprender sobre o mundo?
Crescemos todos a ler sobre a I e a II Guerras Mundiais, a Guerra Fria, a Revolução Francesa, o 25 de Abril e tantos outros acontecimentos que nunca sequer pensamos fazer parte (ok, claro que os nossos pais fizeram parte do 25 de abril, alguns dos nossos avós talvez tivessem passado pela II Guerra Mundial) mas com a evolução do mundo e com tudo o que hoje temos, com tudo acessivel a o todos, alguma vez vos tinha passado pela cabeça viver os dias de hoje? Na minha não tinha passado, de certeza.
E sim, vivemos a história quando apareceram os telemóveis, e a internet, e o mIRC. Quando deixamos de usar o telefone de fio da PT (em que para ter internet o telefone tinha que ser desligado) e passamos a usar aqueles queridos tijolos com teclas e antenas. Passamos pela história quando deixamos de ter que escrever uma mensagem com nao sei quantos caracteres e com abreviaturas (só para não gastarmos duas mensagens, porque isso equivalia a um gasto extra de dinheiro!), quando deixamos de enviar postais aos amigos e passámos a tirar fotografias com o telemóvel. Estamos a viver história, quando os glaciares do ártico estão a derreter, quando a barreira de corais da Austrália está a ser diminuida a olhos vistos, vivemos história quando o Barack Obama foi eleito. Mas em 2020, a maior parte de nós está em casa. De quarentena. Num estado de emergência. Estado esse que os nossos pais já passaram, é verdade, em novembro de 1975, mas que, se calhar, não deixou as marcas que este estado deixará. Estamos a viver história, porque estamos em casa.
Se calhar isto vai servir (e acredito mesmo que sim, ao contrário da M.) para sairmos desta fase melhores pessoas. Sermos mais bondosos e mais tolerantes. Podemos aproveitar estes tempos, em que o que não nos falta é tempo, para falarmos com aqueles amigos dos quais nos fomos afastando, mas ainda gostamos tanto. Podemos aproveitar este tempo, para pedir desculpa a alguém que tenhamos magoado, mesmo sem querer. Podemos aproveitar para pensar no que podemos melhorar, e aprender a não dar tudo por garantido. Há duas semanas, alguém achava que sair para ir à farmacia ou ao supermercado era das poucas coisas que podiamos fazer fora de casa?
Alguém, há um mês atrás, achou que ia ter tempo de ler os livros que tem na estante há anos, de ver as séries que se acumulavam? de passar tempo com os filhos, de os ajudar a estudar, de os ver crescer?
Alguém, há um mês atrás, pensou que podia passar o dia a trabalhar de pijama em casa, cabelo apanhado e make up free? not me.
E não, estes não são tempos risonhos, não são tempos felizes, são tempos de medo, de receio, de incerteza, mas é um tempo histórico e podemos tirar o melhor partido dele e aproveitar para sair deste estado pessoas mais fortes, melhores, e com mais vontade de viver, de fazer pelos outros e de fazer pelo mundo.
Mas não nos esqueçamos que temos que puxar por nós neste tempo tão difícil. Temos que ser fortes e ultrapassar o medo (tão fácil falar...), temos que acreditar que daqui a uns meses podemos voltar a ter uma vida normal, mas não como antes, um bocadinho como eu acredito que possa ser, mais conscientes, mais tolerantes, mais bondosos, mais cuidadosos, mas novamente tão felizes com o simples acto de podermos ir trabalhar para os nossos escritórios, almoçar com os amigos num bom restaurante, sair para uma aula de dança ou ir ao ginásio. Mas para já, vamos pensar em quão privilegiados somos, ou pelo menos, a maioria de nós, pelos dias que podemos ficar em casa, ou podemos trabalhar de casa, porque temos uma casa, ou temos uma família connosco que é isso mesmo, uma família, e pensemos naqueles que: 1. não podem ficar em casa porque precisam estar a combater isto na linha da frente, quer para nos curar quer para que as coisas continuem a chegar a nossa casa, possamos continuar a fazer as nossas compras e o nosso lixo; 2. aqueles que, efectivamente, não têm casa; 3. aqueles que, apesar de estarem em casa, têm também em casa os seus agressores ou aqueles que tanto mal lhes fazem.
Vamos agradecer, enquanto podemos, todas as coisas boas que continuamos a ter, apesar de tudo o que se passa.
E vamos esperar que, quando a pandemia aparecer nos livros de história dos nossos filhos, possamos pensar nela como algo distante e do qual conseguimos sair com o minimo de sequelas possível... E que fez as pessoas e o mundo crescer.
Deixo-vos um video - que vi no instagram da cocónafralda - que tanto nos mostra como Portugal é incrível e nos relembra que nós portugueses, também somos.
Can't Skip Hope.
F.