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quatro de treta e um bebé!

"Não me digam que concordam comigo! Quando as pessoas concordam comigo, tenho sempre a impressão de que estou errado." – Oscar Wilde

quatro de treta e um bebé!

"Não me digam que concordam comigo! Quando as pessoas concordam comigo, tenho sempre a impressão de que estou errado." – Oscar Wilde

22
Mai19

Furacão.

quatro de treta e um bebé

Pegou na mochila e colocou nas costas com o solavanco típico da criança de 5 anos que puxa o casaco que ficou preso nas alças. Encarou-o pela última vez. Sabia e queria que fosse assim, mas porquê que, naquele momento, ir embora não fazia qualquer sentido? Afastando os pensamentos que a invadiam inoportunamente, voltou-se e dirigiu-se à porta. Sem olhar para trás. Respirou fundo, enquanto levantava a cabeça, e empinando o nariz deu início ao último passo. Sabia que quando o fizesse, quando pousasse o pé no chão, era de vez. E isso assustava-a.

Com certezas, mas sem convicções, deu aquele passo. E a seguir o outro e o outro e o outro. Dirigiu-se ao lugar 29A, e sentou-se. Levou as mãos de encontro à cara enquanto o turbilhão de ideias tentava também ele ocupar o seu devido lugar. Já está, pensou! Havia um aperto no peito. Uma vontade de voltar, de fazer tudo de novo. Começaram a ouvir-se gritos ensurdecedores que diziam para se levantar, para ir, para fazer, para recomeçar... O corpo não respondia. Não mexia. E os gritos ensurdecedores foram ficando sem voz. Persistentes, esforçavam-se para se fazerem ouvir. Ao longe, cada vez mais longe. O corpo, esse, continuou impávido e sereno.

O avião partiu. Em jeito de alívio, voltou a levantar a cabeça e encostar-se para trás no banco. Respirou fundo, mais uma vez.

Porra!

Apercebera-se que acabara de passar um furacão na sua vida. Chegou de repente. Depois daquele dia de sol, onde nada fazia prever que as poucas nuvens escuras que começaram a preencher o céu causariam tamanho estrago. Fazendo jus ao nome, levou tudo na frente e foi deixando um rasto ao longo do caminho. Por fim, perdeu a força e desapareceu. Da mesma forma que chegou. Devagar, mas com tudo.

Depois da tempestade passar, o sol volta sempre a raiar. E voltou. Mas às vezes ainda pensa e se tivesse olhado para trás?

 

M.

03
Jan19

Muda de vida, se tu não vives satisfeito

quatro de treta e um bebé

Às vezes, é tão simples quanto isso.

 

Nas palavras de António Variações, “muda de vida, se tu não vives satisfeito (…), estás sempre a tempo de mudar (…), não deves viver contrafeito”; “olha que a vida não, não é nem deve ser, como um castigo que tu terás de viver”.

 

Volta e meia vemos por aí histórias de pessoas que tornaram o seu passatempo num modo de vida, seja a viajar, seja a cozinhar, seja a criar o que quer que seja, e parecem-nos histórias inalcançáveis, de falácias, um “pôr-do-sol patrocinado por uma bebida qualquer” (sim, estou a sentir-me musical!).

 

Atenção, as redes sociais enganam, e a vida seja de quem for não é perfeita, tudo o que é apresentado deu trabalho, esconde suor, lágrimas, espero que não sangue. Mas dizem que é possível viver a fazer o que se gosta.

 

No meu caso concreto, não fui abençoada com um qualquer dote extraordinário, não tenho particular jeito para as artes ou para a bola, um look arrebatador sem qualquer esforço, os meus pais não me ofereceram um ferrari como prenda pela primeira comunhão, não venho de uma longa linhagem de ilustres advogados, não tenho uma qualquer cadeira de poder com o meu nome, não fui apadrinhada por um qualquer líder partidário, nem alvo de intervenção divina. Notem, não critico qualquer situação. O que vos quero dizer é que não há, nem nunca houve, um percurso mais ou menos delineado pelas circunstâncias da minha vida em concreto. Tão pouco vos posso garantir que o teria seguido, sabem que gosto de fazer as coisas à minha maneira. Mas, talvez, se o houvesse, seria, pelo menos, mais óbvio qual o caminho a seguir. Antes houvesse uma bola de cristal e soubesse de antemão o que me esperava se fosse para a direita, ou se fosse para a esquerda.

Nunca me senti totalmente confortável com a ideia de escolher um caminho, fechar as outras portas e olhar em frente. Por outro lado, sempre senti alento nas palavras dos Led Zeppelin, “yes, there are two paths you can go by, but in the long run, there’s still time to change the road you’re on”.

 

A pergunta que devemos fazer a nós próprios é “o que é que é verdadeiramente importante?”.

 

Não fazemos esta pergunta vezes suficientes, quiçá por medo de a fazer, quiçá por medo da resposta. Pode ser medo da resposta pelo que ela nos pode dizer, porque não o queremos dizer em voz alta, não o queremos admitir. Maioritariamente, porém, será medo da resposta pelo que ela implica. É que, tendo a resposta, não temos desculpa para não agirmos em prol dela.

 

O que é que é verdadeiramente importante? Qual é a nossa prioridade, neste exato momento da nossa vida? É a curto, a médio, ou a longo prazo? É algo palpável, comprar aquilo, amealhar aquela quantia, dar apoio àquela pessoa, subir de cargo, aguentar até à reforma, a casa de sonho? Ou é algo mais genérico, queremos conforto, estabilidade, ou, ao invés, adrenalina, estamos focados naquela relação, naquela pessoa, ou, então, em nós próprios, é uma fase de autodescoberta, queremos construir aquilo, alcançar aqueloutro. Vá, eu sei que vocês sabem qual é a vossa resposta a esta pergunta, se a quiserem saber. Não me digam que não houve qualquer faísca aí dentro. Eu sei qual é a minha resposta, pelo menos aqui e agora.

 

É com base nessa resposta que eu escolho olhar para o caminho que percorro e é essa resposta a base da minha perspetiva; o meu lugar, neste momento, é compatível com a minha prioridade? Se não for, por muito que nos forcemos, não vamos estar bem, porque sabemos que, pelo menos de acordo com este critério, não é aqui que devemos estar. Não, não me digam que as coisas não são assim, que temos de fazer sacrifícios. Pelo contrário, fazemos sacrifícios por causa dessa resposta, por causa dessa prioridade. Se assim não o for, então, se calhar, devem repensar a resposta, e enfrentá-la.

 

Ano novo, vida nova. Sim, sim, eu estou perfeitamente ciente de que nada mudou entre as 23h59 do dia 31 de dezembro e as 00h01 do dia 1 de janeiro. Vou contar-vos como olho para a passagem de ano.

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Há uns anos atrás publiquei esta imagem, que caracteriza aquilo que eu sinto (além de demonstrar o meu domínio exímio do software paint). Chegamos ao final do ano cansados. O ano deu o que tinha a dar, enchemos o copo (não o dos apaixólicos), demos o nosso melhor, demos tudo o que tínhamos. Ano, a culpa não é tua! Tu tentaste, eu sei. Mas, agora, vem aí outro. Um ano com a inocência e a ingenuidade que o outro já não poderia mais oferecer. Vem aí todo confiante, de peito cheio, e tu, ano passado, a olhar para ele jocosamente, como quem pensa “se tu soubesses o que te esperava, não empinavas tanto o nariz”. Mas é assim que ele vem, e nós deixamo-nos embriagar por aquela aura de firmeza de que tudo vai correr bem e, como nos diz a M., acreditar é o importante. No último fôlego, já em queda, o ano passado ainda estica a mão e, como equipa, passa o testemunho ao novo ano, já pronto para entrar no ringue.

 

Por isso, no dia 1 de janeiro, respiro fundo, encho os pulmões de ar e deito-o cá para fora com toda a pujança, sacudo o que de mau o ano transato trouxe, arregaço as mangas (figurativamente, como é óbvio, afinal é inverno), e digo para mim própria “vamos lá”.

 

E voltamos onde começamos. “Muda de vida se tu não vives satisfeito”. Sim, às vezes é mesmo tão simples quanto isso.

 

Tão simples quanto um salto de fé. Uma fé não religiosa, não numa entidade sobrenatural, não no destino, não no que pode vir a acontecer. Fé em ti. Em ti e na resposta que deste. Dá um salto de fé e dá tudo de ti para que tudo corra pelo melhor. Se não correr, pelo menos no dia 31 de dezembro vais estar exausta, saturada, mas vais saber que deste tudo, e vais ter a confiança de que estás no caminho certo, porque te deixaste de desculpas e estás a lutar pelo que é verdadeiramente importante.

 

Vamos lá.

 

R.

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