Carta aberta.
“A felicidade é momentânea”, disseste-me tu, naquela tarde. “Vives momentos de felicidade, mas não consegues que ela seja permanente”, insististe.
Com o brilho no olhar e sorriso no rosto, talvez na ilusão do mundo perfeito, mas poucos argumentos, respondi-te que me propunha a provar-te o contrário.
Anos mais tarde, no sossego que nos proporcionamos, perguntei-te se ainda achavas o mesmo. Sorriste, suspiraste e abraçaste-me de forma cúmplice. Li as entrelinhas.
Quis o destino (sempre o destino), que viéssemos a seguir caminhos diferentes. Despediste-te de mim com um "vês, eu disse-te, a felicidade é momentânea".
A tristeza é momentânea, pensei com convicção. Porra, a tristeza é momentânea.
Quando nos conhecemos, vivias num círculo fechado. Eras um círculo fechado. Impossível de transpor. Cheio de segredos, de medos, de fantasmas. De fantasmas! Desconfiado, por natureza. Com ambições profissionais, mas sem grandes ambições pessoais. Cheio de medo das ambições pessoais. Não demonstravas sentimentos, fechava-los em ti com receio de que os outros os usassem. Não percebias que eras tu quem, dessa forma, os virava contra ti.
Assumi, perante mim mesma, a difícil tarefa de transpor essa barreira. Sempre adorei desafios e objetivo era claro: encher a tua vida de vida. E enchi.
O raio do destino (outra vez o destino!) quis que nos voltássemos a cruzar. E por esse motivo, quis saber mais sobre ti. Como estavas, o que fazias, o que fizeste, o que viveste… Porra.
Sempre tiveste razão. A felicidade é momentânea. Para quem se conforma com isso!
M.